Em 2022 o maior acidente radiológico já ocorrido em área urbana do planeta completa 35 anos. Trata-se do acidente com o Césio-137, ocorrido na cidade de Goiânia em 13 de setembro de 1987. O acidente, classificado como nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES), que vai de 1 a 7, é considerado um acidente com consequências de longo alcance e cujos efeitos são observados até hoje.
Escala Internacional de Eventos Nucleares (INES).
O
acidente radiológico ocorrido em Goiânia foi resultado de uma sucessão de
erros, sendo o primeiro deles, sem dúvida, a negligência dos responsáveis por
uma clínica de radioterapia abandonada no centro de Goiânia, que ao encerrar
suas atividades lá deixaram uma máquina de radioterapia que em seu interior
havia uma cápsula contendo um sal de Césio-137, elemento altamente radioativo.
Em 13 de setembro de 1987, os catadores de materiais recicláveis
Wagner Pereira e Roberto Alves encontraram a máquina abandonada e com o auxílio
de um carrinho de mão a retiram do local para realizar o seu desmonte. Após
alguns dias desmontando a máquina a marretadas e separando as peças de aço e
chumbo, os catadores já haviam encontrado a cápsula contendo o material
radioativo, que foi então liberado no ambiente e circularia por pelo menos
quatro setores de Goiânia, levando à contaminação de centenas de pessoas em
poucos dias e outros milhares, em poucos anos.
Após desmontarem e separarem os materiais, Wagner e Roberto
venderam a cápsula juntamente com outras peças para Devair Ferreira, dono de um
ferro velho na cidade de Goiânia, que abriu a cápsula e ficou maravilhado com o
pó brilhante e chamativo em seu interior, mas mal sabia ele, que se tratava de
19 gramas de cloreto de césio (CsCl), sal altamente radioativo, devido ao
isótopo Césio-137 em sua composição.
Devair levou o material para sua casa para mostrar a família sua
descoberta, e maravilhados com o brilho azulado intenso do material a novidade
foi se espalhando, e cada vez mais pessoas entravam em contato com o material
radioativo, dentre elas Ivo Ferreira, irmão de Devair que levou uma amostra do
material e mostrou para sua filha Leide das Neves, a menina de apenas seis anos
comeu com as mãos sujas de Césio-137 e após alguns dias veio a óbito,
tornando-se a primeira vítima fatal do acidente em Goiânia.
Além de Leide das Neves, outras três pessoas morreram
diretamente por efeito do Césio-137. A fim de prevenir a contaminação do solo e
do lençol freático pela radiação, as quatro vítimas foram enterradas em caixões
lacrados e revestidos com chumbo, metal de alta densidade, de forma que o peso
de cada caixão era de aproximadamente 700 Kg.
Diante do avanço da contaminação, a Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN) foi acionada e a descontaminação iniciada em 30 de
setembro. Os rejeitos do acidente com Césio-137 em Goiânia envolveram todo e
qualquer tipo de material que entrou em contato com o material radioativo,
resultando em cerca de 13,4 toneladas de lixo atômico, que foram acondicionadas
em contêineres lacrados hermeticamente, os quais foram destinados a um depósito
em Abadia de Goiás, município localizado a 20 km de Goiânia.
Funcionário da CNEN recolhendo parte do lixo atômico em Goiânia.
Passados 35 anos do acidente em Goiânia, estima-se que o
número de vítimas em decorrência direta ou indireta do acidente seja de
aproximadamente 80 pessoas e cerca de 975 pessoas são monitoradas até hoje.
Por Cristiane Nazaré Baía, Rafael Cunha Reis Lage, Bruna Fernandes da Silva Oliveira, Milena Teixeira Barbosa, Michelle Pereira dos Santos; Alda Ernestina.
Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência
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