Você sabia que ao redor do mundo existem espécies de sapos que em função de seu uso como fonte de substâncias alucinógenas podem estar correndo risco de extinção? É o caso das espécies Rhinella marina (antigo Bufo marinus) e Bufo alvarius, conhecidas popularmente por sapo cururu e sapo do Rio Colorado, respectivamente.
Segundo especialistas em anfíbios, o crescente uso com finalidades psicodélicas das toxinas secretadas por estes sapos tem levado a uma manipulação e exploração excessiva destas espécies, que num futuro não muito distante podem ser extintas.
Os sapos alucinógenos, como são popularmente conhecidos, compreendem espécies de sapos cujas toxinas secretadas como mecanismo de defesa contra predadores contém substâncias alucinógenas as quais o homem tem frequentemente utilizado com o intuito de vivenciar experiências psicodélicas. Substâncias psicodélicas, ou alucinógenas, como foram inicialmente chamadas, são moléculas capazes de se ligarem à receptores dos neurônios e modificarem o seu funcionamento, provocando efeitos psicológicos, fisiológicos e comportamentais, alterando de forma significativa a percepção sensorial.
O sapo cururu é a espécie de sapo mais comum na fauna brasileira e uma das espécies de sapos mais conhecidas em todo o mundo. Apesar de ser nativo das Américas Central e do Sul, o sapo cururu é encontrado em diversas partes do mundo, onde tem sido cada vez mais explorado como fonte de substâncias alucinógenas.
Devido à produção das chamadas bufotoxinas, o sapo cururu é considerado venenoso. As bufotoxinas constituem uma mistura complexa de substâncias químicas excretadas pela glândula paratoide do sapo cururu como mecanismo de defesa contra predadores. O principal componente das bufotoxinas é a N,N-dimetil-5-hidroxitriptamina, conhecida popularmente por bufotenina, um alcalóide indólico que apresenta efeitos alucinógenos cerca de 4 a 6 vezes mais potentes que o DMT (N,N-dimetiltriptamina), princípio ativo da Ayahuasca, bebida alucinógena utilizada em rituais religiosos de seitas e tribos indígenas diversas.
A bufotenina é derivada da serotonina pela dimetilação do seu grupo amina, e, devido à semelhança estrutural com a serotonina demonstra grande afinidade pelos receptores deste neurotransmissor, onde é capaz de se ligar, provocando potentes efeitos alucinógenos. O consumo da bufotenina (geralmente chamada de bufo) como alucinógeno ao redor do mundo é muito comum e os usuários a obtém comprimindo as glândulas parótidas do sapo cururu, que excreta uma mistura leitosa que é geralmente recolhida para ser posteriormente fumada sob a forma de cachimbo ou diluída e injetada via intravenosa. Entretanto, alguns usuários preferem consumir a bufotenina lambendo diretamente a pele do sapo cururu.
Em países como a Austrália, lamber sapos é um ato razoavelmente comum. Contudo, este hábito no mínimo estranho, não é exclusivo da Austrália. No México e nos Estados Unidos o veneno de outra espécie de sapo alucinógeno, o sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius), é utilizado como alucinógeno de forma semelhante ao sapo cururu. Embora não seja proibido o cultivo e comércio desta espécie de sapo, a bufotenina é uma substância de uso controlado nestes países, de forma que seu consumo e comercialização pode levar inclusive à detenção.
Tida por muitos fornecedores como a substância psicoativa mais poderosa do mundo, os efeitos alucinógenos da bufotenina se iniciam após cerca de 5 minutos de seu consumo e podem perdurar por até 1 hora, período durante o qual os usuários podem experimentar sensações diversas, que incluem euforia, fortes alucinações visuais e/ou auditivas, taquicardia e sensação de quase-morte.
O consumo psicodélico da bufotenina traz graves riscos à saúde, podendo inclusive levar o usuário à óbito, caso a concentração ingerida do alucinógeno seja muito elevada. Contudo, estudos científicos têm revelado um interessante potencial terapêutico da bufotenina no tratamento de transtornos mentais. Cabe ressaltar, entretanto, que os pesquisadores não apoiam o consumo recreativo da bufotenina, mas acreditam que seu uso sob supervisão médica pode trazer benefícios, especialmente no tratamento de transtornos de saúde mental como a ansiedade e a depressão.
Por Alda Ernestina dos Santos.
Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência.