quinta-feira, 9 de março de 2023

Água oxigenada e suas aplicações diversas no cotidiano

 


O peróxido de hidrogênio (H2O2), ou água oxigenada, como é mais conhecido é um composto químico de grande importância e utilização em nosso cotidiano. A água oxigenada é um líquido incolor que muito se assemelha à água, e recebe este nome por apresentar fórmula molecular H2O2, ou seja, contém um oxigênio a mais que a água.

A água oxigenada possui as mais diversas aplicações em nosso cotidiano, a seguir são descritos alguns exemplos.

Antisséptico em feridas e machucados

A água oxigenada comercial consiste de uma solução aquosa de peróxido de hidrogênio e é comumente usada na desinfecção de feridas e machucados. 

Ao entrar em contato com a ferida ou machucado, a água oxigenada sofre degradação produzindo água e gás oxigênio (O2). Tal reação ocorre sobre a ação de um catalisador, a enzima catalase, presente no sangue.

A efervescência instantânea que observamos ao aplicar a água oxigenada na ferida ou machucado é devido à liberação do gás O2 na reação, que é o responsável pela propriedade antisséptica da água oxigenada, já que é letal para microorganismos anaeróbicos, tais como bactérias. 

Branqueador em produtos diversos

O H2O2 é um excelente oxidante e por isto é muito utilizado como agente branqueador, por exemplo, no processo industrial de branqueamento do papel. Estima-se que cerca de 2 milhões de toneladas de H2O2 são usadas todos os anos no branqueamento do papel. 

Devido ao seu efeito branqueador o H2O2 é usado em procedimento de clareamento dental, visando a remoção de manchas e o clareamento dos dentes. Alguns produtos de limpeza, como tira-manchas, por exemplo, também apresentam H2O2 em sua composição.

Oxidante em tintas para cabelo 

O H2O2 é usado como oxidante em tintas capilares, pois atua descorando a melanina e clareando os cabelos. Além disso, auxilia no processo de tingimento capilar, oxidando outras substâncias químicas presentes na tinta.

Reagente em varetas luminosas

O H2O2 está presente na composição daquelas varetas luminosas, muito usadas em festas noturnas. 

Quando a vareta é rompida e agitada o H2O2 reage prontamente com uma substância presente no compartimento da vareta. Tal reação produz energia suficiente para excitar as moléculas do corante, que passa então a emitir luz.


Por Alda Ernestina dos Santos


segunda-feira, 6 de março de 2023

Ésteres e o aroma das frutas

 


Os ésteres são compostos orgânicos em geral de odor agradável e conferem o aroma característico a diversas frutas.

Por este motivo, tais compostos são comumente utilizados na indústria alimentícia como aromatizantes naturais ou sintéticos, conferindo aroma e sabor característico e agradável aos alimentos. Além disso, são utilizados na produção de bebidas alcoólicas, como vinhos e cervejas, para conferir aromas e sabores específicos.

Os ésteres podem ser sintetizados em laboratório a partir de uma reação denominada esterificação, que ocorre entre um álcool e um ácido carboxílico. 

Dentre os ésteres encontrados em frutas pode-se destacar:

Fruta

Éster

Álcool e ácido carboxílico de origem

morango

butanoato de butila

ácido butanóico e butan-1-ol

kiwi

benzoato de metila

ácido benzóico e metanol

laranja

etanoato de octila

ácido etanóico e octan-1-ol

framboesa

etanoato de butila

ácido etanóico e butan-1-ol

banana

etanoato de isopentila

ácido etanóico e isopentanol

maçã

etanoato de etila

ácido etanóico e etanol

abacaxi

butanoato de etila

ácido butanóico e etanol

pêra

etanoato de propila

ácido etanóico e propan-1-ol

Por Alda Ernestina dos Santos


A cor e o aroma das rosas

 



Você sabia que a coloração das rosas vermelhas se deve à presença de antocianinas como a cianina e a pelargonidina? 


Antocianinas são metabólitos secundários que atuam como pigmentos vegetais, conferindo coloração característica às folhas, frutos e flores de espécies vegetais diversas.


A coloração da uva roxa por exemplo, se deve à presença de antocianinas.


Além das antocianinas, as rosas apresentam outros pigmentos como a rubixantina e a zeaxantina, desta forma existem sob diferentes colorações.

Por sua vez, o aroma das rosas se deve a uma variedade de compostos voláteis, especialmente terpenos, como o geraniol, citronelol, nerol, dentre outros.

Por Alda Ernestina dos Santos

domingo, 5 de março de 2023

Absinto: a fada verde inspiradora de grandes artistas

 


O absinto, popularmente conhecido por “fada verde”, é uma bebida destilada de elevado teor alcoólico, que se popularizou no século XIX devido ao seu consumo por artistas ilustres como os pintores Vincent Van Gogh, Pablo Picasso e Édouard Manet, que não apenas apreciavam a bebida, mas a retrataram em suas obras.

Originalmente obtido a partir da destilação da mistura de água, álcool e ervas vegetais como o absinto (Artemisium absinthium), a erva doce e o funcho (embora outras ervas como a camomila e a menta possam ser utilizadas), o absinto é um destilado e não um licor, como muitas pessoas o define. Dentre as principais características da bebida destaca-se seu elevado teor alcoólico, que pode ser superior a 70%, a depender do tipo e do método de preparo empregado.


Apesar de ter sua imagem comumente ligada à França devido ao seu consumo por artistas parisienses da época, o absinto é uma bebida de origem suíça. E em seu país de origem o uso da bebida era tão comum que havia a chamada “hora verde”, um momento em que as pessoas se reuniam diariamente entre as 17h e 19h para tomar uma dose da bebida.

Apesar do absinto ter sido criado no século XVIII, as folhas de A. absinthium, principal matéria-prima da bebida, já eram utilizadas na Grécia Antiga como medicamento para o tratamento das mais diversas enfermidades. À época era comum o consumo das folhas desta espécie embebidas em vinho, o que, contudo, nada lembra o gosto e os efeitos observados para o absinto, cujo consumo está relacionado à possíveis efeitos alucinógenos, de forma que o nome “fada verde” não se deve apenas à coloração verde apresentada pela bebida, mas especialmente às recorrentes alucinações visuais experimentadas por algumas pessoas após o seu consumo.

Os efeitos alucinógenos advindos do consumo do absinto são geralmente atribuídos à combinação entre o álcool e a α-tujona, substância natural encontrada no óleo essencial de diversas plantas aromáticas, a exemplo de A. absinthium, em que está presente em grandes quantidades. Além de alucinógena, a α-tujona é neurotóxica e um potente convulsivante, atuando como antagonista do receptor GABAA, de forma que o uso habitual e em excesso do absinto leva a uma desordem denominada absintismo, cujos sintomas incluem alucinações, insônia, tremores e convulsões.


No século XIX o absinto era consumido por artistas como Van Gogh, que acreditavam que a bebida era capaz de aumentar a criatividade e, desta forma, tida como inspiradora por muitos artistas. Contudo, estudos científicos apontam que as alucinações decorrentes do consumo do absinto não levam ao aumento da atividade ou da capacidade mental, porém provocam perturbações no funcionamento cerebral, características da psicose. Assim, o consumo do absinto é considerado por muitos uma ameaça social que torna as pessoas psicóticas e com tendências à criminalidade.

Van Gogh era um ferrenho apreciador do absinto, e o uso excessivo da bebida teria lhe rendido alguns surtos psicóticos, há inclusive quem acredite que o pintor estava sob o efeito da bebida no episódio em que decepou sua própria orelha. A obra “Natureza morta com absinto” pintada em 1887 por Van Gogh é uma prova do apreço do artista pela bebida.


Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência.



Bufotenina: o alucinógeno que pode levar o sapo cururu à extinção

 


Você sabia que ao redor do mundo existem espécies de sapos que em função de seu uso como fonte de substâncias alucinógenas podem estar correndo risco de extinção? É o caso das espécies Rhinella marina (antigo Bufo marinus) e Bufo alvarius, conhecidas popularmente por sapo cururu e sapo do Rio Colorado, respectivamente.

Segundo especialistas em anfíbios, o crescente uso com finalidades psicodélicas das toxinas secretadas por estes sapos tem levado a uma manipulação e exploração excessiva destas espécies, que num futuro não muito distante podem ser extintas.

Os sapos alucinógenos, como são popularmente conhecidos, compreendem espécies de sapos cujas toxinas secretadas como mecanismo de defesa contra predadores contém substâncias alucinógenas as quais o homem tem frequentemente utilizado com o intuito de vivenciar experiências psicodélicas. Substâncias psicodélicas, ou alucinógenas, como foram inicialmente chamadas, são moléculas capazes de se ligarem à receptores dos neurônios e modificarem o seu funcionamento, provocando efeitos psicológicos, fisiológicos e comportamentais, alterando de forma significativa a percepção sensorial.

O sapo cururu é a espécie de sapo mais comum na fauna brasileira e uma das espécies de sapos mais conhecidas em todo o mundo. Apesar de ser nativo das Américas Central e do Sul, o sapo cururu é encontrado em diversas partes do mundo, onde tem sido cada vez mais explorado como fonte de substâncias alucinógenas.


Devido à produção das chamadas bufotoxinas, o sapo cururu é considerado venenoso. As bufotoxinas constituem uma mistura complexa de substâncias químicas excretadas pela glândula paratoide do sapo cururu como mecanismo de defesa contra predadores. O principal componente das bufotoxinas é a N,N-dimetil-5-hidroxitriptamina, conhecida popularmente por bufotenina, um alcalóide indólico que apresenta efeitos alucinógenos cerca de 4 a 6 vezes mais potentes que o DMT (N,N-dimetiltriptamina), princípio ativo da Ayahuasca, bebida alucinógena utilizada em rituais religiosos de seitas e tribos indígenas diversas.

A bufotenina é derivada da serotonina pela dimetilação do seu grupo amina, e, devido à semelhança estrutural com a serotonina demonstra grande afinidade pelos receptores deste neurotransmissor, onde é capaz de se ligar, provocando potentes efeitos alucinógenos. O consumo da bufotenina (geralmente chamada de bufo) como alucinógeno ao redor do mundo é muito comum e os usuários a obtém comprimindo as glândulas parótidas do sapo cururu, que excreta uma mistura leitosa que é geralmente recolhida para ser posteriormente fumada sob a forma de cachimbo ou diluída e injetada via intravenosa. Entretanto, alguns usuários preferem consumir a bufotenina lambendo diretamente a pele do sapo cururu.


Em países como a Austrália, lamber sapos é um ato razoavelmente comum. Contudo, este hábito no mínimo estranho, não é exclusivo da Austrália. No México e nos Estados Unidos o veneno de outra espécie de sapo alucinógeno, o sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius), é utilizado como alucinógeno de forma semelhante ao sapo cururu. Embora não seja proibido o cultivo e comércio desta espécie de sapo, a bufotenina é uma substância de uso controlado nestes países, de forma que seu consumo e comercialização pode levar inclusive à detenção.

Tida por muitos fornecedores como a substância psicoativa mais poderosa do mundo, os efeitos alucinógenos da bufotenina se iniciam após cerca de 5 minutos de seu consumo e podem perdurar por até 1 hora, período durante o qual os usuários podem experimentar sensações diversas, que incluem euforia, fortes alucinações visuais e/ou auditivas, taquicardia e sensação de quase-morte.

O consumo psicodélico da bufotenina traz graves riscos à saúde, podendo inclusive levar o usuário à óbito, caso a concentração ingerida do alucinógeno seja muito elevada. Contudo, estudos científicos têm revelado um interessante potencial terapêutico da bufotenina no tratamento de transtornos mentais. Cabe ressaltar, entretanto, que os pesquisadores não apoiam o consumo recreativo da bufotenina, mas acreditam que seu uso sob supervisão médica pode trazer benefícios, especialmente no tratamento de transtornos de saúde mental como a ansiedade e a depressão.

Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência.

Ayahuasca: uma bebida milenar sagrada e patrimônio cultural da região Amazônica

 


A Ayahuasca, conhecida também por hoasca, iagê, daime, cipó das almas e santo-daime, é uma bebida alucinógena de uso milenar e sagrada, que faz parte da cultura de tribos e povos indígenas espalhados desde a região Amazônica até o sul dos Andes. O uso da Ayahuasca, antes restrito às tribos indígenas amazônicas, foi ao longo do tempo sendo incorporado às civilizações, de forma que a Ayahuasca é hoje uma bebida consumida em rituais de grupos sincréticos religiosos em países como Austrália, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Peru, sendo em muitos desses países reconhecida como patrimônio cultural.

No Brasil, a tradição do consumo sagrado da Ayahuasca deu origem às chamadas religiões ayahuasqueiras, cujas principais são o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal, que contam com milhares de adeptos em todo o Brasil e até no exterior.

A Ayahuasca é preparada através da infusão de duas espécies vegetais medicinais da região Amazônica, o cipó Banisteropsis caapi e as folhas de Psychotria viridis. A N,N-dimetiltriptamina, mais conhecida por DMT, é o principal componente ativo da Ayahuasca, e o responsável pelos efeitos alucinógenos da bebida.


A DMT é um produto natural encontrado em diversas plantas e que apresenta estrutura bastante semelhante à da serotonina, por este motivo demonstra grande afinidade pelos receptores da serotonina, exercendo sua atividade alucinógena por atuar sobre tais receptores. Devido à atuação da enzima monoamino oxidase A (MAO), a DMT não é ativa por via oral. Contudo, na presença de substâncias inibidoras da MAO, a DMT torna-se ativa. Desta forma, a Ayahuasca é preparada a partir da mistura entre uma espécie rica em DMT, geralmente Psychotria viridis, com plantas que contenham inibidores da MAO, sendo o cipó Banisteropsis caapi o mais utilizado para este fim, por conter alcaloides β-carbonílicos, dentre eles a harmina, um excelente inibidor da MAO.

A DMT pura é muito mais ativa que a Ayahuasca, entretanto, apresenta menor tempo de ação, de poucos minutos. Com a ingestão da Ayahuasca os efeitos alucinógenos podem durar de 2 até 4 horas.

O potencial terapêutico da Ayahuasca é comprovado em diversos estudos científicos. Contudo, seu uso ainda não é regulamentado em vários países, devido aos possíveis riscos que o consumo desta bebida pode trazer à saúde. No Brasil, o uso da Ayahuasca com fins religiosos é permitido desde 1986, mas ao longo dos anos foram aprovados documentos normativos que restringiam ou até mesmo criminalizavam o seu uso. Atualmente há em tramitação no Congresso o Projeto de Lei 179/20 que disciplina o uso da Ayahuasca e reconhece como entidades religiosas as instituições que o utilizam para fins ritualísticos.

Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência 


Kopy Luwak: o café mais caro do mundo

 


Você já ouviu falar em Kopy Luwak? O Kopy Luwak (kopi = café + luwak = civeta) ou café de Civeta é considerado o café mais caro do mundo e também um dos mais exóticos. Isto por que é obtido de forma muito peculiar, a partir de grãos de café semi-digeridos e defecados pela Civeta de Palmeira Asiática (Paradoxurus hermaphroditus), um felino selvagem nativo do Sul e Sudoeste da Ásia, região onde se concentra a produção deste tipo de café.

A Civeta alimenta-se dos frutos maduros do café, os quais são digeridos em seu sistema gastrointestinal, com exceção aos grãos, que posteriormente são excretados em suas fezes e após serem coletados, higienizados e processados são finalmente comercializados como o café mais caro do mundo.


                                                                        Grãos de Kopy Luwak obtidos das fezes da Civeta.                                           

A passagem dos grãos de café pelo trato digestivo da Civeta confere ao Kopy Luwak um sabor inigualável, um café com gosto suave, menos ácido e com menor amargor que os cafés convencionais. O sabor único do Kopy Luwak se deve à ação de enzimas do trato digestivo das Civetas, que possibilita um processo de fermentação natural que dura cerca de 12 horas, bem como ao fato deste felino selecionar muito bem os frutos de café antes de consumi-los.

A produção do Kopy Luwak envolve uma longa cadeia de processos, desde o cultivo dos pés de café ao transporte para comercialização. Além disso, pelo fato de sua produção ser totalmente dependente da Civeta, mamífero encontrado em regiões específicas da Ásia, o Kopy Luwak apresenta um alto valor de mercado, sendo o valor médio do quilo deste café mil e duzentos dólares, podendo em restaurantes e cafeterias uma xícara de Kopy Luwak chegar a custar noventa e cinco dólares.

Vale destacar que, a depender da qualidade e tipo do Kopy Luwak o quilo pode chegar à faixa de três mil dólares, como é o caso do Goyo Kopy Luwak (Figura 2), obtido a partir do manejo de Civetas criadas soltas em seu habitat natural e que se alimentam dos frutos de café, sem a interferência humana. Mas sem dúvidas, o alto preço do Kopy Luwak deve-se principalmente à sua raridade, decorrente de sua produção muito limitada, uma vez que são produzidos menos de 230 kg deste café anualmente.


                                                                                             Kopy Luwak comercial.

Você sabia que aqui no Brasil há um tipo de café tão exótico quanto o Kopy Luwak? Trata-se do café Jacu (Jacu Bird Coffee - Figura 3), cujos grãos são obtidos a partir das fezes do Jacu (Penelope sp.), ave nativa das florestas latino-americanas, e que aqui no Brasil conta com pelo menos setes espécies diferentes.


                                                                                                Café Jacu comercial.

Assim como o Kopy Luwak, os grãos do café Jacu são obtidos a partir das fezes de um animal, neste caso o Jacu, que se alimenta dos frutos de café maduros, liberando em suas fezes os grãos de café intactos. Por seu processo de obtenção tão peculiar, o café Jacu detém o título de café mais caro do Brasil, e juntamente com o Kopy Luwak e o Black Ivory (café obtido a partir de excrementos de elefantes na Tailândia) figura entre os cafés mais caros do mundo.

Por Alda Ernestina dos Santos

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência

Armas de efeito moral: a química dos gases lacrimogêneos

 


Você sabia que existe muita química por trás das armas de efeito moral? Armas de efeito moral são armas não letais utilizadas para conter e controlar situações de tumulto de forma menos letal que o uso de armas de fogo, por exemplo. As armas de efeito moral são projetadas e utilizadas com o intuito de incapacitar temporariamente as pessoas, sem provocar ferimentos permanentes e/ou causar a sua morte. O princípio de uso das armas de efeito moral é paralisar pelo susto, desta forma elas são armas muito úteis no controle de motins e manifestações, de forma que o uso deste tipo de arma vem se tornando cada vez mais comum por policiais e forças armadas.

Existe uma grande variedade de armas de efeito moral que atuam de diversas formas que vão desde armas de impacto físico como a bala de borracha, até o uso de agentes químicos, como é o caso dos gases lacrimogêneos. Os gases lacrimogêneos estão entre as armas de efeito moral mais utilizadas por autoridades policiais no Brasil na contenção de tumultos. Gases lacrimogêneos é o termo utilizado para se referir a compostos químicos que atuam como agentes lacrimejantes, isto é, que têm a capacidade de irritar os olhos, a pele e as vias respiratórias. Cabe ressaltar, entretanto que os gases lacrimogêneos não são gases, e sim uma suspensão em aerosol destas substâncias irritantes.

O primeiro registro da utilização de agentes lacrimejantes data do final do século XV quando povos indígenas do México queimavam óleo de pimenta com o intuito de produzir uma fumaça lacrimogênea e tóxica. Contudo, o uso de gases lacrimogêneos em larga escala teve início apenas no século XX, mas a popularização desse tipo de arma se deu de fato durante a Primeira Guerra Mundial. Atualmente existem cerca de 15 compostos químicos que atuam como agentes lacrimogêneos, sendo que quatro deles se destacam: os agentes CN (cloroacetofenona), CS (ortoclorobenzilmalonitrila), CR (dibenzoxazepina) e o 2-bromo-2-fenilacetonitrila, cujas estruturas encontram-se representadas na figura a seguir.

Um outro tipo muito comum de arma que contém agente lacrimejante é o spray de pimenta, conhecido também por agente OC. O spray de pimenta tem como princípio ativo a oleoresina de Capsicum (daí a sigla “OC”), obtida a partir de espécies de pimentas e pimentões do gênero Capsicum. A capsaicina constitui o principal componente da oleoresina, sendo a responsável pela ardência das pimentas e pelo efeito pungente do spray de pimenta. Em geral, a composição do spray de pimenta consiste de uma solução contendo 10% de oleoresina de capsaicina diluída em um solvente orgânico.


                                                            

No que diz respeito aos efeitos dos gases lacrimogêneos no organismo humano, apesar de apresentarem alta margem de segurança, o uso destes artefatos pode provocar ferimentos graves e até a morte, caso sejam utilizados por um longo período ou em locais sem ventilação adequada. A exemplo do que aconteceu em 25 de maio deste ano, com Genivaldo de Jesus dos Santos, um sergipano de 38 anos que foi à óbito após ser abordado por policiais que o colocaram dentro de uma viatura policial fechada ainda inalando o gás lacrimogêneo de uma bomba recém detonada. Genivaldo foi à óbito em decorrência da ação do gás lacrimogêneo que o levou a convulsões e a incapacidade de respirar, morrendo em poucos minutos por asfixia.


Por Alda Ernestina dos Santos.




Jack responde: Como que o álcool pode virar cachaça?

 


Que a cachaça é uma bebida alcoólica já sabemos, mas afinal, como é possível o álcool se transformar em cachaça?

Para responder a esta pergunta, precisamos primeiramente compreender que o processo de obtenção da cachaça envolve dois momentos principais: a fermentação e a destilação, uma vez que a cachaça é uma bebida fermentada e destilada.

A fermentação alcoólica é o processo químico pelo qual microorganismos como as leveduras e determinadas bactérias convertem açúcares como a glicose em etanol (C2H5OH) e dióxido de carbono (CO2), com o intuito de obterem energia que será empregada em suas funções fisiológicas. 

No caso específico da cachaça, o álcool da bebida, o etanol, é obtido sob a ação de leveduras, a exemplo da espécie Saccharomyces cerevisae que promove a fermentação do caldo de cana (garapa), convertendo o açúcar do caldo de cana em álcool e gás carbônico.

A fermentação do caldo de cana envolve, basicamente, dois processos. Inicialmente, sob a ação da enzima invertase, ocorre a quebra do açúcar da cana, a sacarose, em dois açúcares diferentes, a glicose e a frutose, além da liberação de uma molécula de água, numa reação química denominada hidrólise.

           Equação química da hidrólise da sacarose.

Na presença de microorganismos como a levedura S. cerevisae a glicose é então convertida em etanol e gás carbônico.

                              Conversão da glicose em etanol e gás carbônico.

O produto resultante da fermentação é denominado vinho de cana e apresenta baixo teor alcoólico. Como a cachaça deve apresentar um teor alcoólico entre 38 e 48%, o caldo de cana então fermentado deve passar pelo processo de destilação que promoverá um aumento na concentração de etanol na bebida. Para tanto, a mistura obtida na fermentação é destilada dentro dos chamados alambiques.

O alambique é o equipamento de destilação dentro do qual o caldo de cana fermentado é aquecido em temperatura suficiente para que alguns de seus componentes, como é o caso do etanol, passem do estado líquido para o estado de vapor. À medida que o processo de destilação avança, os vapores condensam (voltam ao estado líquido) e o líquido vai sendo coletado.

Cabe destacar que apenas 80% do líquido coletado é considerado cachaça de boa qualidade, uma vez que a primeira parte (cerca de 10%) do volume coletado recebe o nome de “pinga de cabeça” e deve ser descartada, pois apresenta um elevado teor de substâncias voláteis que podem ser tóxicas ao organismo caso sejam consumidas. O restante (10%) do líquido coletado, já no final da destilação também é descartado, pois apresenta um baixo teor alcoólico e não se enquadra nos padrões exigidos para a cachaça.

Por Alda Ernestina

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência


Tabela Periódica Inclusiva: um recurso para auxiliar professores no ensino de Química para estudantes surdos

 

                                                                              Versão web da Tabela Periódica Inclusiva.

A educação inclusiva tem por objetivo promover o processo de ensino-aprendizagem de todos, bem como proporcionar aos alunos com necessidades específicas a inclusão, de forma a garantir a equidade no ensino. Em se tratando da inclusão de alunos com deficiência auditiva no ensino regular, materiais e recursos didáticos acessíveis ou adaptados em Libras são importantes ferramentas facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem destes alunos.

Além de materiais didáticos adaptados, os alunos com deficiência auditiva podem contar também com softwares educacionais os quais além de auxiliar na aprendizagem, colaboram para a redução das desigualdades que estes alunos enfrentam diariamente no ambiente escolar.

Visando a promoção de um ensino cada vez mais inclusivo, foi desenvolvido no IFMG – Campus Bambuí um projeto de pesquisa que possibilitou a criação de um software educacional web para o ensino de Química, tendo por base a Tabela Periódica Inclusiva, uma Tabela Periódica interativa desenvolvida em Libras para auxiliar professores no ensino de Química para alunos surdos, bem como alunos em geral.


O material didático acessível, que foi inicialmente disponibilizado no formato de e-book, agora conta com uma versão web. O software foi desenvolvido pelo aluno Allan Rafael Nunes Medeiros, do curso de Engenharia da Computação, sob a orientação dos professores Alda Santos, Fábio Mourão e Vássia Soares, o projeto contou ainda com a colaboração externa do professor Alisson Chiquitto, do IFMS – Campus Naviraí.

A implementação do software envolveu o uso de tecnologias de desenvolvimento web diversas, incluindo HTML, CSS, JavaScript e PWA (Progressive Web App). Além da versão web, a Tabela Periódica Inclusiva agora pode ser utilizada como aplicativo, por meio da instalação em dispositivos móveis como tablets e smartphones. O funcionamento do software tanto no ambiente web, como aplicativo móvel foi possível graças ao uso da PWA, uma nova tecnologia que permite o desenvolvimento de softwares que funcionam de forma híbrida, podendo ser executados entre as páginas da web regulares e como um aplicativo móvel.

Após a implementação e testagem, o software foi avaliado por professores de Química atuantes em diferentes níveis e redes de ensino, onde foi considerado funcional e de fácil uso, tendo uma boa aceitabilidade pelos professores, que apontaram a Tabela Periódica Inclusiva como uma ferramenta importante para o ensino de Química, que poderá contribuir no processo de inclusão de alunos com deficiência auditiva.

A versão web da Tabela Periódica Inclusiva encontra-se disponível no endereço eletrônico: https://www.tabelaperiodicalibras.com.br. Para visualizar as informações de cada um dos elementos, basta clicar sobre o símbolo do elemento desejado na Tabela Periódica disponível na página principal.

Por Alda Ernestina dos Santos

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência

Acidente com Césio-137 em Goiânia: 35 anos do maior acidente radiológico da história

 


Em 2022 o maior acidente radiológico já ocorrido em área urbana do planeta completa 35 anos. Trata-se do acidente com o Césio-137, ocorrido na cidade de Goiânia em 13 de setembro de 1987. O acidente, classificado como nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES), que vai de 1 a 7, é considerado um acidente com consequências de longo alcance e cujos efeitos são observados até hoje.

                                                                        Escala Internacional de Eventos Nucleares (INES).

O acidente radiológico ocorrido em Goiânia foi resultado de uma sucessão de erros, sendo o primeiro deles, sem dúvida, a negligência dos responsáveis por uma clínica de radioterapia abandonada no centro de Goiânia, que ao encerrar suas atividades lá deixaram uma máquina de radioterapia que em seu interior havia uma cápsula contendo um sal de Césio-137, elemento altamente radioativo.

Em 13 de setembro de 1987, os catadores de materiais recicláveis Wagner Pereira e Roberto Alves encontraram a máquina abandonada e com o auxílio de um carrinho de mão a retiram do local para realizar o seu desmonte. Após alguns dias desmontando a máquina a marretadas e separando as peças de aço e chumbo, os catadores já haviam encontrado a cápsula contendo o material radioativo, que foi então liberado no ambiente e circularia por pelo menos quatro setores de Goiânia, levando à contaminação de centenas de pessoas em poucos dias e outros milhares, em poucos anos.

Após desmontarem e separarem os materiais, Wagner e Roberto venderam a cápsula juntamente com outras peças para Devair Ferreira, dono de um ferro velho na cidade de Goiânia, que abriu a cápsula e ficou maravilhado com o pó brilhante e chamativo em seu interior, mas mal sabia ele, que se tratava de 19 gramas de cloreto de césio (CsCl), sal altamente radioativo, devido ao isótopo Césio-137 em sua composição.

Devair levou o material para sua casa para mostrar a família sua descoberta, e maravilhados com o brilho azulado intenso do material a novidade foi se espalhando, e cada vez mais pessoas entravam em contato com o material radioativo, dentre elas Ivo Ferreira, irmão de Devair que levou uma amostra do material e mostrou para sua filha Leide das Neves, a menina de apenas seis anos comeu com as mãos sujas de Césio-137 e após alguns dias veio a óbito, tornando-se a primeira vítima fatal do acidente em Goiânia.

Além de Leide das Neves, outras três pessoas morreram diretamente por efeito do Césio-137. A fim de prevenir a contaminação do solo e do lençol freático pela radiação, as quatro vítimas foram enterradas em caixões lacrados e revestidos com chumbo, metal de alta densidade, de forma que o peso de cada caixão era de aproximadamente 700 Kg.



                                                      Sepultamento de uma das vítimas da tragédia.

Diante do avanço da contaminação, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) foi acionada e a descontaminação iniciada em 30 de setembro. Os rejeitos do acidente com Césio-137 em Goiânia envolveram todo e qualquer tipo de material que entrou em contato com o material radioativo, resultando em cerca de 13,4 toneladas de lixo atômico, que foram acondicionadas em contêineres lacrados hermeticamente, os quais foram destinados a um depósito em Abadia de Goiás, município localizado a 20 km de Goiânia.


                                                      Funcionário da CNEN recolhendo parte do lixo atômico em Goiânia.

Passados 35 anos do acidente em Goiânia, estima-se que o número de vítimas em decorrência direta ou indireta do acidente seja de aproximadamente 80 pessoas e cerca de 975 pessoas são monitoradas até hoje.

Por Cristiane Nazaré Baía, Rafael Cunha Reis Lage, Bruna Fernandes da Silva Oliveira, Milena Teixeira Barbosa, Michelle Pereira dos Santos; Alda Ernestina.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência