terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Jack responde: Como funciona o galinho do tempo?




O galinho do tempo é um instrumento meteorológico simples que indica possíveis mudanças climáticas com base na alteração de sua cor. Os galinhos do tempo, são bibelôs na forma de um pequeno galo que, dependendo das condições climáticas, adquirem coloração azul ou rosa.

O funcionamento do galinho do tempo pode ser explicado quimicamente, pois baseia-se no equilíbrio químico estabelecido quando o cloreto de cobalto (II) é dissolvido em água. Na superfície do galinho do tempo há uma solução aquosa de cloreto de cobalto. Em ambiente seco, este sal apresenta coloração azul. Mas, quando em sua forma hidratada, fica rosa. Essa mudança de cor é reversível, ou seja, pode ser alterada de acordo com a umidade do ar.

No galinho do tempo, se observa o seguinte equilíbrio químico:


                                   Fórmula do equilíbrio químico envolvido no funcionamento do galinho do tempo.
                                                                             Fonte: Próprios autores.

O íon [CoCℓ4]2- apresenta coloração azul, já o íon [Co(H2O)6]2+ é cor de rosa. Dependendo da umidade do ar, esse equilíbrio químico pode ser deslocado tanto para a direita, deixando o galinho rosa, ou para a esquerda, ficando o galinho com coloração azulada.

Vamos entender melhor como a umidade do ar interfere na coloração do galinho do tempo.

Quando a umidade do ar está muito elevada, ou seja, há um excesso de moléculas de água no ar, a reação é deslocada para a direita, formando mais [Co(H2O)6]2+ e o galinho então fica cor de rosa. Contudo, quando a umidade do ar está baixa, ou seja, o tempo está seco, o equilíbrio é deslocado para a esquerda, produzindo [CoCℓ4]2-, e o galinho então ficará azul.

Com base no deslocamento de equilíbrio, é possível concluir que, quando o galinho do tempo fica rosa, é indício de possibilidade de chuva, pois o tempo está úmido. Já a coloração rosa do galinho do tempo indica que o tempo está seco, sem previsão de chuva.

O verdadeiro galinho do tempo tem origem portuguesa e foi criado em 1960, inspirado no Galo de Barcelos, um dos principais símbolos de Portugal.


                                                                                         Galo de Barcelos.
                                                         Fonte: https://www.pngwing.com/pt/free-png-cgntl

Cabe ressaltar que a previsão do tempo é algo muito mais complexo, e não envolve apenas a umidade do ar. Desta forma, o galinho do tempo não é um instrumento científico confiável para prever o tempo com precisão. Sua eficácia é mais baseada em superstição e tradição do que em princípios científicos comprovados, de forma que a sua eficácia real é questionável. Para informações meteorológicas precisas e confiáveis, é recomendado consultar fontes científicas e especializadas, como serviços meteorológicos profissionais ou aplicativos de previsão do tempo.

Por: Maria Fernanda Melo, Tatiele Maria Oliveira Rocha, Laura Castroalbeny, Gabriele Santos Alcântara e Alda Ernestina dos Santos (alda.santos@ifmg.edu.br)

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Gambá: um marsupial nem tão mal cheiroso assim


Que o gambá é conhecido como um dos animais mais fedorentos que existem não resta dúvida. Mas, você sabia que os gambás não são animais tão fedorentos como dizem por aí?

Os gambás são animais marsupiais, isto é, as fêmeas apresentam uma bolsa chamada marsúpio, na qual carregam e amamentam seus filhotes. De hábitos noturnos, os gambás são conhecidos principalmente pelo seu cheiro fétido peculiar, que se deve à produção de uma secreção em suas glândulas anais, e que é usada para marcar território, e não como mecanismo de defesa como muitos acreditam.

Apesar da fama de fedorentos, os gambás não são animais mal cheirosos como muitas pessoas pensam. A maioria das espécies de gambás não utiliza o fedor como arma contra predadores. Em geral, ao se sentir ameaçado a principal estratégia de defesa do gambá é se fingir de morto e não exalar o cheiro fétido. A fama de mal cheiroso atribuída aos gambás se deve basicamente ao fato deste animal ser frequentemente confundido com o cangambá, também conhecido por “jaratataca”.

Embora sejam comumente confundidos, gambá e jaratataca são animais bem diferentes, a começar pelo fato deste último não ser um marsupial. Uma outra diferença é o cheiro fétido exalado pela jaratataca que é muito mais intenso que o do gambá, podendo ser sentido a distâncias de mais de 5 km, se estiver a favor do vento. Cabe ressaltar que é comum durante o cio as fêmeas de ambas as espécies exalarem seu cheiro com o intuito de atrair os machos.

Diferenças físicas entre o gambá e a jaratataca.

A jaratataca sim, é um animal genuinamente fedorento, que ao se sentir ameaçado imeadiatamente esguicha um fino jato (que pode alcançar até 4 metros de distância) do líquido fétido em direção ao predador, o que acaba criando uma nuvem de odor bem desagradável que pode ser sentido a longas distâncias. O odor exalado é tão fétido e intenso que acaba por afastar o predador. Tal cheiro se deve à presença de compostos sulfurados, conhecidos por tióis, especialmente o 3-metilbutanotiol, principal responsável pelo odor característico dos gambás. Embora outros tióis como o propan-1-tiol e o propano-2-tiol estejam também presentes.


                          Compostos responsáveis pelo cheiro fétido da jaratataca.

Os tióis são conhecidos popularmente por mercaptanas e caracterizados pelo cheiro desagradável. Tais compostos são bastante voláteis (evaporam à baixas temperaturas) e podem ser detectados pelo nosso olfato mesmo em concentrações extremamente baixas. Por este motivo, algumas mercaptanas como o etanotiol e o butan-1-tiol são adicionadas ao gás de cozinha para lhe conferir cheiro e revelar a ocorrência de possíveis vazamentos de gás.


Mercaptanas adicionadas ao gás de cozinha.

Devido à persistência das mercaptanas, remover o cheiro de jaratataca de roupas e objetos não é uma tarefa simples, mas uma boa estratégia é utilizar uma mistura formada por água, bicarbonato de sódio e água oxigenada, que atua neutralizando o cheiro das mercaptanas, eliminando assim o cheiro característico deste animal.

A primavera é a época do ano em que ocorre a reprodução dos gambás, e também o período em que se registra mais ocorrências de mortes de animais desta espécie, pelo fato de serem geralmente confundidos com roedores e terem a fama de mal cheirosos. Contudo, cabe ressaltar que os gambás têm um papel ecológico importante, atuando como dispersores de sementes, além de ser predador de animais perigosos como cobras e escorpiões, atuando no controle biológico destes animais.

Por Alda Ernestina dos Santos

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Ayahuasca: uma bebida milenar sagrada e patrimônio cultural da região Amazônica

 


A Ayahuasca, conhecida também por hoasca, iagê, daime, cipó das almas e santo-daime, é uma bebida alucinógena de uso milenar e sagrada, que faz parte da cultura de tribos e povos indígenas espalhados desde a região Amazônica até o sul dos Andes. O uso da Ayahuasca, antes restrito às tribos indígenas amazônicas, foi ao longo do tempo sendo incorporado às civilizações, de forma que a Ayahuasca é hoje uma bebida consumida em rituais de grupos sincréticos religiosos em países como Austrália, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Peru, sendo em muitos desses países reconhecida como patrimônio cultural.

No Brasil, a tradição do consumo sagrado da Ayahuasca deu origem às chamadas religiões ayahuasqueiras, cujas principais são o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal, que contam com milhares de adeptos em todo o Brasil e até no exterior.

A Ayahuasca é preparada através da infusão de duas espécies vegetais medicinais da região Amazônica, o cipó Banisteropsis caapi e as folhas de Psychotria viridis. A N,N-dimetiltriptamina, mais conhecida por DMT, é o principal componente ativo da Ayahuasca, e o responsável pelos efeitos alucinógenos da bebida.


A DMT é um produto natural encontrado em diversas plantas e que apresenta estrutura bastante semelhante à da serotonina, por este motivo demonstra grande afinidade pelos receptores da serotonina, exercendo sua atividade alucinógena por atuar sobre tais receptores. Devido à atuação da enzima monoamino oxidase A (MAO), a DMT não é ativa por via oral. Contudo, na presença de substâncias inibidoras da MAO, a DMT torna-se ativa. Desta forma, a Ayahuasca é preparada a partir da mistura entre uma espécie rica em DMT, geralmente Psychotria viridis, com plantas que contenham inibidores da MAO, sendo o cipó Banisteropsis caapi o mais utilizado para este fim, por conter alcaloides β-carbonílicos, dentre eles a harmina, um excelente inibidor da MAO.

A DMT pura é muito mais ativa que a Ayahuasca, entretanto, apresenta menor tempo de ação, de poucos minutos. Com a ingestão da Ayahuasca os efeitos alucinógenos podem durar de 2 até 4 horas.

O potencial terapêutico da Ayahuasca é comprovado em diversos estudos científicos. Contudo, seu uso ainda não é regulamentado em vários países, devido aos possíveis riscos que o consumo desta bebida pode trazer à saúde. No Brasil, o uso da Ayahuasca com fins religiosos é permitido desde 1986, mas ao longo dos anos foram aprovados documentos normativos que restringiam ou até mesmo criminalizavam o seu uso. Atualmente há em tramitação no Congresso o Projeto de Lei 179/20 que disciplina o uso da Ayahuasca e reconhece como entidades religiosas as instituições que o utilizam para fins ritualísticos.

Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência 


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Absinto: a fada verde inspiradora de grandes artistas

 


O absinto, popularmente conhecido por “fada verde”, é uma bebida destilada de elevado teor alcoólico, que se popularizou no século XIX devido ao seu consumo por artistas ilustres como os pintores Vincent Van Gogh, Pablo Picasso e Édouard Manet, que não apenas apreciavam a bebida, mas a retrataram em suas obras.

Originalmente obtido a partir da destilação da mistura de água, álcool e ervas vegetais como o absinto (Artemisium absinthium), a erva doce e o funcho (embora outras ervas como a camomila e a menta possam ser utilizadas), o absinto é um destilado e não um licor, como muitas pessoas o define. Dentre as principais características da bebida destaca-se seu elevado teor alcoólico, que pode ser superior a 70%, a depender do tipo e do método de preparo empregado.


Apesar de ter sua imagem comumente ligada à França devido ao seu consumo por artistas parisienses da época, o absinto é uma bebida de origem suíça. E em seu país de origem o uso da bebida era tão comum que havia a chamada “hora verde”, um momento em que as pessoas se reuniam diariamente entre as 17h e 19h para tomar uma dose da bebida.

Apesar do absinto ter sido criado no século XVIII, as folhas de A. absinthium, principal matéria-prima da bebida, já eram utilizadas na Grécia Antiga como medicamento para o tratamento das mais diversas enfermidades. À época era comum o consumo das folhas desta espécie embebidas em vinho, o que, contudo, nada lembra o gosto e os efeitos observados para o absinto, cujo consumo está relacionado à possíveis efeitos alucinógenos, de forma que o nome “fada verde” não se deve apenas à coloração verde apresentada pela bebida, mas especialmente às recorrentes alucinações visuais experimentadas por algumas pessoas após o seu consumo.

Os efeitos alucinógenos advindos do consumo do absinto são geralmente atribuídos à combinação entre o álcool e a α-tujona, substância natural encontrada no óleo essencial de diversas plantas aromáticas, a exemplo de A. absinthium, em que está presente em grandes quantidades. Além de alucinógena, a α-tujona é neurotóxica e um potente convulsivante, atuando como antagonista do receptor GABAA, de forma que o uso habitual e em excesso do absinto leva a uma desordem denominada absintismo, cujos sintomas incluem alucinações, insônia, tremores e convulsões.


No século XIX o absinto era consumido por artistas como Van Gogh, que acreditavam que a bebida era capaz de aumentar a criatividade e, desta forma, tida como inspiradora por muitos artistas. Contudo, estudos científicos apontam que as alucinações decorrentes do consumo do absinto não levam ao aumento da atividade ou da capacidade mental, porém provocam perturbações no funcionamento cerebral, características da psicose. Assim, o consumo do absinto é considerado por muitos uma ameaça social que torna as pessoas psicóticas e com tendências à criminalidade.

Van Gogh era um ferrenho apreciador do absinto, e o uso excessivo da bebida teria lhe rendido alguns surtos psicóticos, há inclusive quem acredite que o pintor estava sob o efeito da bebida no episódio em que decepou sua própria orelha. A obra “Natureza morta com absinto” pintada em 1887 por Van Gogh é uma prova do apreço do artista pela bebida.


Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência.



Bufotenina: o alucinógeno que pode levar o sapo cururu à extinção

 


Você sabia que ao redor do mundo existem espécies de sapos que em função de seu uso como fonte de substâncias alucinógenas podem estar correndo risco de extinção? É o caso das espécies Rhinella marina (antigo Bufo marinus) e Bufo alvarius, conhecidas popularmente por sapo cururu e sapo do Rio Colorado, respectivamente.

Segundo especialistas em anfíbios, o crescente uso com finalidades psicodélicas das toxinas secretadas por estes sapos tem levado a uma manipulação e exploração excessiva destas espécies, que num futuro não muito distante podem ser extintas.

Os sapos alucinógenos, como são popularmente conhecidos, compreendem espécies de sapos cujas toxinas secretadas como mecanismo de defesa contra predadores contém substâncias alucinógenas as quais o homem tem frequentemente utilizado com o intuito de vivenciar experiências psicodélicas. Substâncias psicodélicas, ou alucinógenas, como foram inicialmente chamadas, são moléculas capazes de se ligarem à receptores dos neurônios e modificarem o seu funcionamento, provocando efeitos psicológicos, fisiológicos e comportamentais, alterando de forma significativa a percepção sensorial.

O sapo cururu é a espécie de sapo mais comum na fauna brasileira e uma das espécies de sapos mais conhecidas em todo o mundo. Apesar de ser nativo das Américas Central e do Sul, o sapo cururu é encontrado em diversas partes do mundo, onde tem sido cada vez mais explorado como fonte de substâncias alucinógenas.


Devido à produção das chamadas bufotoxinas, o sapo cururu é considerado venenoso. As bufotoxinas constituem uma mistura complexa de substâncias químicas excretadas pela glândula paratoide do sapo cururu como mecanismo de defesa contra predadores. O principal componente das bufotoxinas é a N,N-dimetil-5-hidroxitriptamina, conhecida popularmente por bufotenina, um alcalóide indólico que apresenta efeitos alucinógenos cerca de 4 a 6 vezes mais potentes que o DMT (N,N-dimetiltriptamina), princípio ativo da Ayahuasca, bebida alucinógena utilizada em rituais religiosos de seitas e tribos indígenas diversas.

A bufotenina é derivada da serotonina pela dimetilação do seu grupo amina, e, devido à semelhança estrutural com a serotonina demonstra grande afinidade pelos receptores deste neurotransmissor, onde é capaz de se ligar, provocando potentes efeitos alucinógenos. O consumo da bufotenina (geralmente chamada de bufo) como alucinógeno ao redor do mundo é muito comum e os usuários a obtém comprimindo as glândulas parótidas do sapo cururu, que excreta uma mistura leitosa que é geralmente recolhida para ser posteriormente fumada sob a forma de cachimbo ou diluída e injetada via intravenosa. Entretanto, alguns usuários preferem consumir a bufotenina lambendo diretamente a pele do sapo cururu.


Em países como a Austrália, lamber sapos é um ato razoavelmente comum. Contudo, este hábito no mínimo estranho, não é exclusivo da Austrália. No México e nos Estados Unidos o veneno de outra espécie de sapo alucinógeno, o sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius), é utilizado como alucinógeno de forma semelhante ao sapo cururu. Embora não seja proibido o cultivo e comércio desta espécie de sapo, a bufotenina é uma substância de uso controlado nestes países, de forma que seu consumo e comercialização pode levar inclusive à detenção.

Tida por muitos fornecedores como a substância psicoativa mais poderosa do mundo, os efeitos alucinógenos da bufotenina se iniciam após cerca de 5 minutos de seu consumo e podem perdurar por até 1 hora, período durante o qual os usuários podem experimentar sensações diversas, que incluem euforia, fortes alucinações visuais e/ou auditivas, taquicardia e sensação de quase-morte.

O consumo psicodélico da bufotenina traz graves riscos à saúde, podendo inclusive levar o usuário à óbito, caso a concentração ingerida do alucinógeno seja muito elevada. Contudo, estudos científicos têm revelado um interessante potencial terapêutico da bufotenina no tratamento de transtornos mentais. Cabe ressaltar, entretanto, que os pesquisadores não apoiam o consumo recreativo da bufotenina, mas acreditam que seu uso sob supervisão médica pode trazer benefícios, especialmente no tratamento de transtornos de saúde mental como a ansiedade e a depressão.

Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Kopy Luwak: o café mais caro do mundo

 


Você já ouviu falar em Kopy Luwak? O Kopy Luwak (kopi = café + luwak = civeta) ou café de Civeta é considerado o café mais caro do mundo e também um dos mais exóticos. Isto por que é obtido de forma muito peculiar, a partir de grãos de café semi-digeridos e defecados pela Civeta de Palmeira Asiática (Paradoxurus hermaphroditus), um felino selvagem nativo do Sul e Sudoeste da Ásia, região onde se concentra a produção deste tipo de café.

A Civeta alimenta-se dos frutos maduros do café, os quais são digeridos em seu sistema gastrointestinal, com exceção aos grãos, que posteriormente são excretados em suas fezes e após serem coletados, higienizados e processados são finalmente comercializados como o café mais caro do mundo.


                                                                        Grãos de Kopy Luwak obtidos das fezes da Civeta.                                           

A passagem dos grãos de café pelo trato digestivo da Civeta confere ao Kopy Luwak um sabor inigualável, um café com gosto suave, menos ácido e com menor amargor que os cafés convencionais. O sabor único do Kopy Luwak se deve à ação de enzimas do trato digestivo das Civetas, que possibilita um processo de fermentação natural que dura cerca de 12 horas, bem como ao fato deste felino selecionar muito bem os frutos de café antes de consumi-los.

A produção do Kopy Luwak envolve uma longa cadeia de processos, desde o cultivo dos pés de café ao transporte para comercialização. Além disso, pelo fato de sua produção ser totalmente dependente da Civeta, mamífero encontrado em regiões específicas da Ásia, o Kopy Luwak apresenta um alto valor de mercado, sendo o valor médio do quilo deste café mil e duzentos dólares, podendo em restaurantes e cafeterias uma xícara de Kopy Luwak chegar a custar noventa e cinco dólares.

Vale destacar que, a depender da qualidade e tipo do Kopy Luwak o quilo pode chegar à faixa de três mil dólares, como é o caso do Goyo Kopy Luwak (Figura 2), obtido a partir do manejo de Civetas criadas soltas em seu habitat natural e que se alimentam dos frutos de café, sem a interferência humana. Mas sem dúvidas, o alto preço do Kopy Luwak deve-se principalmente à sua raridade, decorrente de sua produção muito limitada, uma vez que são produzidos menos de 230 kg deste café anualmente.


                                                                                             Kopy Luwak comercial.

Você sabia que aqui no Brasil há um tipo de café tão exótico quanto o Kopy Luwak? Trata-se do café Jacu (Jacu Bird Coffee - Figura 3), cujos grãos são obtidos a partir das fezes do Jacu (Penelope sp.), ave nativa das florestas latino-americanas, e que aqui no Brasil conta com pelo menos setes espécies diferentes.


                                                                                                Café Jacu comercial.

Assim como o Kopy Luwak, os grãos do café Jacu são obtidos a partir das fezes de um animal, neste caso o Jacu, que se alimenta dos frutos de café maduros, liberando em suas fezes os grãos de café intactos. Por seu processo de obtenção tão peculiar, o café Jacu detém o título de café mais caro do Brasil, e juntamente com o Kopy Luwak e o Black Ivory (café obtido a partir de excrementos de elefantes na Tailândia) figura entre os cafés mais caros do mundo.

Por Alda Ernestina dos Santos

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência