domingo, 5 de março de 2023

Ayahuasca: uma bebida milenar sagrada e patrimônio cultural da região Amazônica

 


A Ayahuasca, conhecida também por hoasca, iagê, daime, cipó das almas e santo-daime, é uma bebida alucinógena de uso milenar e sagrada, que faz parte da cultura de tribos e povos indígenas espalhados desde a região Amazônica até o sul dos Andes. O uso da Ayahuasca, antes restrito às tribos indígenas amazônicas, foi ao longo do tempo sendo incorporado às civilizações, de forma que a Ayahuasca é hoje uma bebida consumida em rituais de grupos sincréticos religiosos em países como Austrália, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Peru, sendo em muitos desses países reconhecida como patrimônio cultural.

No Brasil, a tradição do consumo sagrado da Ayahuasca deu origem às chamadas religiões ayahuasqueiras, cujas principais são o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal, que contam com milhares de adeptos em todo o Brasil e até no exterior.

A Ayahuasca é preparada através da infusão de duas espécies vegetais medicinais da região Amazônica, o cipó Banisteropsis caapi e as folhas de Psychotria viridis. A N,N-dimetiltriptamina, mais conhecida por DMT, é o principal componente ativo da Ayahuasca, e o responsável pelos efeitos alucinógenos da bebida.


A DMT é um produto natural encontrado em diversas plantas e que apresenta estrutura bastante semelhante à da serotonina, por este motivo demonstra grande afinidade pelos receptores da serotonina, exercendo sua atividade alucinógena por atuar sobre tais receptores. Devido à atuação da enzima monoamino oxidase A (MAO), a DMT não é ativa por via oral. Contudo, na presença de substâncias inibidoras da MAO, a DMT torna-se ativa. Desta forma, a Ayahuasca é preparada a partir da mistura entre uma espécie rica em DMT, geralmente Psychotria viridis, com plantas que contenham inibidores da MAO, sendo o cipó Banisteropsis caapi o mais utilizado para este fim, por conter alcaloides β-carbonílicos, dentre eles a harmina, um excelente inibidor da MAO.

A DMT pura é muito mais ativa que a Ayahuasca, entretanto, apresenta menor tempo de ação, de poucos minutos. Com a ingestão da Ayahuasca os efeitos alucinógenos podem durar de 2 até 4 horas.

O potencial terapêutico da Ayahuasca é comprovado em diversos estudos científicos. Contudo, seu uso ainda não é regulamentado em vários países, devido aos possíveis riscos que o consumo desta bebida pode trazer à saúde. No Brasil, o uso da Ayahuasca com fins religiosos é permitido desde 1986, mas ao longo dos anos foram aprovados documentos normativos que restringiam ou até mesmo criminalizavam o seu uso. Atualmente há em tramitação no Congresso o Projeto de Lei 179/20 que disciplina o uso da Ayahuasca e reconhece como entidades religiosas as instituições que o utilizam para fins ritualísticos.

Por Alda Ernestina dos Santos.

Artigo publicado na Revista IFMG Com Ciência 


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