terça-feira, 18 de julho de 2023

Das folhas de coca às pedras de crack: um caminho sem volta

 


O crack, uma droga altamente viciante, devastadora e de baixo custo, é atualmente a segunda droga (perdendo apenas para o álcool) que mais mata no mundo, de forma que se tornar usuário de crack é praticamente um caminho sem volta. Você sabia que o crack é derivado da cocaína?

A cocaína é um produto natural pertencente à classe dos alcaloides (metabólitos constituídos por carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio) e o componente principal das folhas da planta Erythroxylon coca, espécie nativa dos Andes, onde é conhecida popularmente por coca.

Estrutura química da cocaína
Fonte: Elaborada pela autora.

A estrutura química da cocaína nos diz muito sobre suas propriedades químicas, de forma que o átomo de nitrogênio presente em sua estrutura por conter um par de elétrons livres confere à cocaína propriedades básicas, possibilitando com que ela reaja facilmente com ácidos, produzindo sais. Baseado nesta propriedade química, se faz o refino da cocaína para fins comerciais.

Nas folhas de coca, a cocaína encontra-se misturada com outras substâncias e para separá-la, é necessário o processo de extração, em que as folhas desta planta são prensadas em uma mistura de ácido sulfúrico (H2SO4), gasolina e querosene, obtendo-se então uma pasta (pasta base) denominada sulfato de cocaína, um sal insolúvel em água, obtido da reação entre a cocaína e o ácido sulfúrico. Por ser pouco solúvel em água, o sulfato de cocaína deve passar por um processo químico para aumentar sua solubilidade. Nesta última etapa, a pasta base é tratada com ácido clorídrico (HCl) e leva à obtenção de um sal mais solúvel, o cloridrato de cocaína, pó branco que é então comercializado como narcótico.


                                                                           Processo de obtenção do crack.
                                                                           Fonte: Elaborada pela autora.

Assim como todo sal, o cloridrato de cocaína apresenta alto ponto de ebulição e logo não pode ser "fumado", por isso a cocaína é então "cheirada", ou ainda, devido à alta solubilidade deste sal, pode ser misturada à água e administrada por via injetável.

Quando aspirada pelas narinas, a cocaína não é muito bem absorvida pelo organismo e por isso, demora um certo tempo para provocar seus efeitos. Para potencializar o efeito da cocaína, foi criado então o crack, muito mais potente, cujos efeitos são instantâneos. O crack é obtido a partir da reação do cloridrato de cocaína com uma substância com propriedades básicas, geralmente bicarbonato de sódio (NaHCO3) ou amônia (NH3) devido ao baixo custo. Desta reação obtém-se um sólido branco em camadas finas, que se quebra facilmente, daí a origem do nome crack (quebra em inglês), sendo comercializado sob a forma de pedras.

Ao contrário do cloridrato de cocaína, essa base apresenta baixo ponto de ebulição e pode ser facilmente queimada nos cachimbos dos usuários de crack. Logo, quando é fumado, o crack invade as vias aéreas do usuário e chega até o pulmão e em poucos segundos, a mensagem é enviada ao cérebro, que percebe imediatamente seus efeitos que podem ir da simples sensação de euforia, até um ataque cardíaco. Por ser "fumado", o crack é muito mais potente que a cocaína, que é geralmente "cheirada" e desta forma, menos absorvida pelo organismo.


         Principais efeitos do crack no organismo.
         Fonte: Elaborada pela autora.

Por Alda Ernestina dos Santos

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